ARTIGOS CIENTÍFICOS

Onde estão os pensadores do nosso país?*

FRANCISCO FILHO, José André**.


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Palavras-chaves: filosofia, pensadores, educação, família, social.


RESUMO

Atualmente, o Brasil passa por uma verdadeira crise de identidade em vários setores, como a família e a sociedade, gerando graves problemas sociais, como a violência. Percebe-se também que algumas instituições (família, escola, religião) não estão fazendo seus papeis como deveriam fazer, principalmente na formação crítica do cidadão, o que resulta num processo de alienação, tendo como principais agentes os grandes meios de comunicação de massa, representantes/servidores de uma minoria que detém o poder do país. Enfocamos neste estudo, diante de tais problemas, a importância da filosofia como instrumento de reforço para mudanças positivas no meio da sociedade brasileira, que conta com grandes pensadores na atualidade, na sua maioria desconhecidos pelo povo, porque a própria mídia os sufoca. Necessário se faz que mudanças nesse sentido aconteçam, para o pleno desenvolvimento da cidadania.

RESUME

Currently, Brazil is going through a real identity crisis in various sectors, such as family and society, creating serious social problems such as violence. We also observe that some institutions (family, school, religion) are not doing their roles as they should do, especially in the critical formation of the citizen, which results in a process of alienation, and the main agents of the major means of mass communication, agents / servers of a minority that holds power in the country. We focus in this study, before such problems, the importance of philosophy as a tool for reinforcing positive changes in the middle of Brazilian society, which has great thinkers today, mostly unknown by the people because the media itself suffocates. Make necessary changes that happen in this direction, for the full development of citizenship.


*Trabalho escrito pelo acadêmico José André F. Filho apresentado à Universidade Federal da Paraíba, Pró-Reitoria de Graduação, Licenciatura em Ciências Biológicas à Distância, Componente Curricular: Metodologia Cientifica e Pesquisa Aplicada – Tema: Produzindo uma comunicação científica - Professora: Fabiana Sena da Silva - Tutora: Márcia Coelho; Turma: 2009.2 - Polo: Duas Estradas,PB, 28 de abril de 2010.
**Natural de Guarabira-PB, é graduado em Letras (UEPB) e especialista em Língua, Linguagem e Ensino (FIP/Patos,PB), Professor, Poeta, Escritor, Comunicador e Acadêmico de Ciências Biológicas da UFPBVirtual.



Introdução

Atualmente, percebe-se que o Brasil vive uma fase conflituosa em relação à sua estrutura familiar, social e comportamental, gerando um caos que atinge a população através de ações conflituosas e/ou violentas.

Em meio às turbulências, os grandes meios de comunicação de massa amordaçam o povo, pois não apresentam alternativas voltadas para a educação e a cultura. Para complicar mais o quadro: parte dos segmentos religiosos está alheia aos problemas do país, e silenciam diante da realidade; o mesmo acontece com a família e a escola.

Mediante essas reflexões, questionamos: onde estão os grandes pensadores brasileiros? Por que estão silenciosos? Entendemos a filosofia como um despertar para transformações cotidianas, a partir de questionamentos, do livre exercício do pensamento, de como provocar o povo pensar, se libertar da alienação imposta por uma minoria que manda e “desorganiza” o país. Assim, a filosofia poderia ter voz e vez, quebrando os gritos silenciosos.


Desenvolvimento

Sabemos que não cabe à Filosofia o fardo de todas as transformações, mas diante do quadro que o país apresenta nos dias atuais, necessário se faz que os pensadores, de todos os ramos do contexto filosófico, comecem a disseminar com agilidade as sementes das transformações sociais, para que num futuro próximo tenhamos um país com menos desigualdades sociais e com uma família mais ajustada. A perda de identidade do meio familiar é analisada por Pires (2002:14), quando este afirma que “Deslocando-se de uma comunidade rural para a cidade, ocorre, no indivíduo e na família, uma perda de subjetividade e se entra na esfera do anonimato.” A cada dia esse anonimato se amplia, pois o diálogo entre famílias e na própria família já não existe. As pessoas se transformam em “frios manequins”, estão acuadas, trancadas em suas casas cercadas por muros e cercas elétricas que mais parecem prisões. Já não podem colocar os pés na calçada devido a violência que toma conta das ruas.

Nesse ponto vale destacar: poucos param um segundo para pensar, refletir, questionar, perceber um amanhecer, um pôr-do-sol, o meio ambiente, a fauna, a flora... Há até que já nem tem tempo de se olhar no espelho. “Pensar é o destino do homem”, como defende Cury (2007:23).

Na trajetória da humanidade sempre surgiram grandes pensadores: Platão, Sócrates, Aristóteles, Pitágoras, Descartes, Engels, Hegel, Ganhi, Kant, Karl Marx, Maquiavel, Nietsche, Rousseau, Sartre, Voltaire, Santo Agostinho, dentre outros, os quais deram importantes contribuições para o mundo. O que teria sido da humanidade sem o pensamento deles?

No Brasil, alguns pensadores se destacam (desconhecidos pela maioria da classe oprimida; alguns têm obras reconhecidas por educadores), a exemplo de Leandro Konder, Luiz Vilela, Nildo Viana, Olavo de Carvalho, Oswaldo Porchat Pereira, Rosalvo Salgueiro, Leonardo Boff, Clodovis Boff, Sílvio Gallo, Rubem Alves e Marilena Chauí. Como afirmamos antes, o desconhecimento da imagem e da obra desses filósofos perante o povo, ocorre porque não é interesse dos grandes meios de comunicação divulgá-los, fazer com que realmente as pessoas “pensem de verdade”, percebam a realidade, tentem mudanças conjuntas. Os que detêm o poder jamais permitirão isso. A imprensa (em grande parte) funciona como instrumento de alienação para a população, ofertando-lhe novelas, filmes e desenhos violentos, humorismo e programas com temas sedutor-pornográficos, apologia às bebidas, fofocas, consumismo exagerado etc. Diante de toda essa desinformação e não construção do conhecimento, não sobra tempo para cada pessoa pensar, questionar, encontrar soluções. Os bons canais televisivos independentes, como a TV Escola, Cultura, Futura, pouca gente assiste. Há uma inversão de valores em tudo: o que seria bom, não presta; o que presta passa a ser ruim para os telespectadores.

O Brasil é um país carente de leitores. Precisa-se urgente de uma revolução educacional séria e comprometida com seu próprio contexto social. Uma revolução que contemple todas as esferas educativas, desde o ensino fundamental ao superior, pois não se concebe que neste último, ainda exista professor formador de outros, que vivam apenas no mundo das ideias (teorias), sem sequer conhecer a realidade de uma sala de aula do ensino fundamental, por exemplo.

Uma das soluções para formação crítica do cidadão está no próprio ambiente escolar, começando o processo na base do ensino, mas há professores sendo preparados para isso? O sistema educacional público, principalmente o ensino fundamental e médio, está ligado ao sistema político, que por sua vez está ligado à minoria que possui toda a riqueza do país. Eles vão querer que a escola forme alunos pensantes? Os professores poderiam quebrar esse paradigma, mas estão preparados para isso?

Uma educação que leva o educando ao fracasso, resulta num país meramente fracassado, desconhecedor dos seus princípios morais, éticos e sociais, afinal o que é “ser cidadão”? O que é “ser pessoa”? “Pessoa não é um valor transcendente, sobrenatural ou divino; mas é natural e biológico. Seu conceito é mutável e pode ser repensado, descrito de outro modo conforme a evolução da filosofia e da ciência” (PEGORARO, 2003:73). A naturalidade do ser humano nos faz refletir que o mesmo pode transformar suas ações e do meio em que vive para bem melhor. Apostamos nisso, embora a pessoa seja bombardeada por lavagens cerebrais continuamente nas 24 horas, é aí que entra a figura dos pensadores. Mas onde estão os pensadores?

Quando há um silêncio geral no país, dá-se entender que tudo está bem, às “mil maravilhas” em todas as áreas: educação, saúde e social. Os beneficiados com a situação é a classe política que vê na ocasião um meio de se beneficiar e continuar mantendo o status e domínio sobre a população carente de tudo. O filósofo Rousseau (2007:29) sobre o assunto diz que na espécie humana há duas espécies de desigualdades: uma natural (física), estabelecida pela natureza (idade, saúde, forças do corpo e das qualidades do espírito ou da alma; e outra moral ou política que depende de convenção, sendo estabelecida pelo consentimento dos homens. Nos dias atuais a política que se fragmenta em “politicagens” é a que prevalece, cercada, contextualizada em todo tipo de artifícios ilícitos.

Vale ressaltar que o povo brasileiro já não aguenta mais tanto sofrimento, desajuste social, desestruturação familiar, precariedade na educação, na cultura e na saúde. Como explica KONDER (1981:47): “A alienação que afeta o trabalhador na prática afeta os indivíduos da classe dominante em sua maneira de pensar (...) criam instituições, símbolos, etc., e os impõe a toda sociedade”. Necessário se faz que os grandes pensadores e todo cidadão que tem uma mente mais aberta à realidade, comunguem do mesmo objetivo, que é, pouco a pouco, disseminar as sementes da transformação social no país, para que o mesmo se torne mais justo e solidário. Que os nossos heróis não sejam políticos corruptos, traficantes ou assassinos, mas pensadores, filósofos que nos façam perceber a importância, a força que temos e como somos capazes de transformar a realidade em casa, na rua, na comunidade, na sociedade e no país como um todo.


Conclusões

O mundo contemporâneo é envolvido por uma pressa sem limites, que culmina na falta do gerenciamento de tempo, que passa a ser uma catarse coletiva do povo, que vê nessa situação um meio de desculpas para a não-reflexão sobre a realidade precária que passa o país em relação à crise familiar, social e comportamental. Entendemos que há soluções para amenizar tais problemas. Elegemos como principal o despertar da filosofia através dos pensadores brasileiros e de todo cidadão que queira despertar a população que anda adormecida, alienada pelos grandes meios de comunicação de massa, principalmente a TV, e por uma minoria de privilegiados capitalistas que mandam no país, em detrimento da miséria de milhões cidadãos. Concluímos que, como Didetot escreveu “Carta sobre os cegos – endereçada àqueles que enxergam” e “Carta sobre os surdos e mudos – endereçada àqueles que ouvem e falam”, este artigo sirva como instrumento de libertação para o ouvir, entender e falar de uma maioria que se encontra silenciosa.



Referências

CURY, Augusto. Treinando a emoção para ser feliz. 2ª ed. São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2007.
DIDEROT, Denis. Carta sobre os cegos endereçada àqueles que enxergam; Carta sobre os surdos e mudos endereçada àqueles que ouvem e falam. São Paulo: Editora Escala, 2006.
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da Propriedade Privada e do Estado. 2ª ed. Revisada. São Paulo: Editora Escala, 2007.
KONDER, Leandro. Marx Vida e Obra. 4ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1981.
PEGORARO, Olinto A. O conceito de pessoa: da subsistência à existência. In: Filosofia Prática e Modernidade. Organizadores: Luiz Bernardo Leite Araújo, Ricardo José Corrêa Barbosa. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2003.
PIRES, Dom José Maria. A cultura urbana. In: Símbolos, Revista Interdisciplinar do Seminário Arquidiocesano da Paraíba. Vol. I, Nº 0. João Pessoa: Ideia. Fev/Mai/2002.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. A origem da desigualdade entre os homens. São Paulo: 2007.
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